
Depois da minha aparatosa queda, achei que ainda não era altura para desistir de ser motard, qualquer um pode ter um azar, até porque não sou pessoa de desistir facilmente, a não ser que ande mesmo desmotivado.
Nesta segunda aventura, por qualquer motivo, eu e o Travassos tínhamos decidido ir a Santarém, não me recordo bem porquê.
Partimos de Coruche em direcção a Santarém, na mota do Travassos, uma Sachs V5, penso que lhe tinha sido oferecida pelo avô.
Fomos grande parte do caminho atrás de um camião enorme, certa altura o Travassos não aguentou mais e decidiu ultrapassar o camião, a recta até era bem grande, só que a mota não desenvolvia o suficiente para podermos ultrapassar, tivemos que nos "empranchar" na mota, os dois bem abaixados, de modo a podermos "cortar o vento", não foi suficiente. À nossa frente estava uma curva, sempre pensei que o Travassos desistisse da ultrapassagem, claro que estava enganado, agarrei-me a ele e fechei os olhos, já não havia nada a fazer, ele continuou a ultrapassar o camião na curva e pouco depois concluiu a ultrapassagem, foi um alívio, não sei se foi a Nª Srª de Fátima que nos ajudou, mas nesse momento não veio nenhum carro de frente, cá para mim, achei que foi mesmo sorte.
Parámos antes de Almeirim, no local onde agora está uma rotunda com direcções para Santarém, Fazendas de Almeirim, etc. O Travassos perguntou se eu sabia conduzir motas, prontamente respondi que sim, fiquei excitadíssimo por poder conduzir aquela super mota, só tinha ainda conduzido uma Florett. Quando tentei arrancar estava sempre a deixar a mota ir abaixo, comecei a ficar enervado, à terceira tentativa larguei a bruscamente a embraiagem e acelerei a fundo, a roda da frente da mota levantou, tinha feito um cavalinho sem querer, o Travassos quase que ia caindo, só teve tempo de se agarrar a mim, senão ficava a pé, já não podia parar, tinha-me custado tanto a arrancar.
Ele pergunta-me:
- Olha lá, tu sabes conduzir?
- Claro que sei! - Respondi prontamente, tentando transmitir-lhe alguma confiança.
Quando chegámos a Almeirim, no sítio onde agora está o Pingo Doce, sinto um toque no ombro e vejo ele a fazer sinal para encostar, rapidamente virei à direita e passámos a poucos centímetros da placa a dizer Bem-Vindos a Almeirim, pouco depois estacionei.
- Tens mesmo a certeza que sabes conduzir? - Pergunta-me ele desconfiado.
- Claro que sei!
- Não parece mesmo nada. Quando arrancaste, sacas-te um cavalinho que eu ia caindo da mota e depois quase fizeste com que nos espetássemos contra a placa a dizer Bem-Vindos a Almeirim, eu fiz-te o sinal para estacionares mas não era preciso ser logo, era só quando tivesses oportunidade.
- Calma, estava tudo controlado!
O resto da viagem correu bem, apesar te ter chegado a casa todo ranhoso, estava um frio de rachar.
Ainda hoje, quando vou a Almeirim e passo por aquela placa, lembro-me sempre desta história, só de pensar que podia ter ficado agarrado à placa, eram mesmo coisas de gaiatos tontos.